A Falta de Famílias no Revit: Um Gargalo para a Modelagem BIM no Brasil

Introdução

A metodologia BIM vem revolucionando a forma como projetamos e construímos no Brasil, com o Revit como uma das ferramentas mais utilizadas para modelagem arquitetônica, estrutural e de instalações. No entanto, um dos maiores desafios enfrentados por projetistas e modeladores é a escassez e inadequação das famílias Revit, que afeta diretamente a eficiência, precisão e produtividade dos projetos.

Neste artigo, vamos abordar esse problema recorrente, discutir seu impacto no dia a dia dos profissionais e destacar por que as empresas fabricantes e fornecedoras de produtos da construção civil deveriam prestar mais atenção à criação e disponibilização de bibliotecas BIM compatíveis com o Revit.

O Que São Famílias no Revit?

No Revit, "famílias" são elementos paramétricos que representam objetos do mundo real, como portas, janelas, móveis, luminárias, equipamentos HVAC, louças sanitárias, entre outros. Elas são componentes fundamentais para compor o modelo 3D de forma precisa e rica em dados.

Cada família carrega informações técnicas, como dimensões, materiais, códigos, desempenho e até links para manutenção — tudo isso é essencial para que o modelo BIM possa ser usado não só na fase de projeto, mas também na construção e operação do edifício.


APROVEITE: PLANILHAS DE ENGENHARIA CIVIL


O Problema: Falta de Famílias de Qualidade e Adequadas ao Mercado Brasileiro

Apesar do crescimento da metodologia BIM no Brasil, a oferta de famílias Revit localizadas, bem configuradas e compatíveis com os padrões nacionais ainda é extremamente limitada. Os principais problemas enfrentados por projetistas incluem:

  • Pouca disponibilidade de famílias de produtos nacionais;

  • Famílias mal modeladas, pesadas ou com parâmetros incorretos;

  • Falta de padronização e ausência de informações técnicas relevantes;

  • Incompatibilidade com normas da ABNT e exigências de obras públicas;

  • Necessidade de criar famílias do zero, o que consome tempo e recursos.

Essa situação gera retrabalho, atrasa a modelagem e, muitas vezes, compromete a qualidade do projeto entregue. Para empresas que trabalham com prazos apertados e contratos BIM, isso se torna um obstáculo crítico.

Vídeo: situação onde tive que modelar o cavalete padrão SABESP, pois em contato a empresa não havia a família para disponibilizar. 


Imagem: Nessa situação foi necessário a criação de uma família do SHAFT SMART BAN  

O Papel das Empresas Fornecedoras e Fabricantes

Muitas empresas da cadeia da construção ainda não perceberam a oportunidade estratégica que existe na produção e distribuição de bibliotecas BIM bem feitas. Em mercados mais maduros, como Europa e Estados Unidos, é comum que grandes fabricantes de esquadrias, metais sanitários, luminárias ou sistemas mecânicos ofereçam seus catálogos de produtos em formatos compatíveis com Revit, ArchiCAD e outras plataformas.

No Brasil, essa prática ainda é incipiente. No entanto, disponibilizar famílias BIM pode ser um diferencial competitivo para as marcas, pois:

  • Facilita a especificação de seus produtos em projetos reais;

  • Gera fidelização de projetistas e escritórios de engenharia;

  • Aumenta a presença da marca em obras públicas que exigem BIM;

  • Melhora a transparência e comunicação entre projeto e execução.

Ou seja, quem investe na criação de famílias de qualidade está, na prática, entrando diretamente nos projetos — e muitas vezes garantindo espaço no canteiro de obras.

Caminhos Possíveis: Como Melhorar Essa Situação?

1. Empresas investindo em bibliotecas próprias

Fabricantes podem contratar consultorias especializadas em BIM para desenvolver famílias Revit paramétricas de seus produtos. Isso garante qualidade, leveza de arquivos e conformidade com normas.

2. Criação de portais e repositórios nacionais

Iniciativas como BIMobject, Bimbrasil, e sites como a plataforma da Procel Edifica são tentativas importantes, mas ainda dispersas. É preciso consolidar plataformas brasileiras com conteúdo realmente útil.

3. Políticas públicas de incentivo

O governo pode estimular empresas a disponibilizar objetos BIM como parte de certificações ou linhas de financiamento, especialmente para obras públicas.

4. Padronização e normatização

A ABNT e outros órgãos técnicos podem criar guias ou selos de qualidade para bibliotecas BIM, a fim de estabelecer critérios mínimos de modelagem, nomenclatura e parâmetros obrigatórios.

Conclusão

A falta de famílias Revit adequadas é um dos maiores gargalos técnicos enfrentados por quem trabalha com BIM no Brasil. Resolver esse problema exige uma mudança de mentalidade por parte das empresas fornecedoras e uma atuação mais ativa por parte de órgãos públicos e entidades setoriais.

Se a indústria quer acompanhar a digitalização do setor da construção civil, precisa compreender que oferecer bibliotecas BIM não é apenas um “plus”, mas uma ferramenta estratégica de mercado.

Projetistas querem especificar produtos reais, com dados confiáveis e prontos para usar no modelo. Cabe aos fabricantes estar à altura desse novo cenário.


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